domingo, 11 de outubro de 2015



Arte© Sofia Palma



Arte © Justyna Kopania

Outonos
Vivo mais um outono. O da dança das estações e o da dança dos muitos anos que visto. Gosto do cheiro da terra que acorda espreguiçando-se no orvalho que se despede do verão, das cores ocres, castanhas e ouro-velho que as plantas e as folhas das árvores ostentam com um orgulho límpido, das nuvens que dão os primeiros passos para esconderem, ciosas, o brilho do sol, das gotas de chuva que lavam os troncos nus porque a sua roupagem se transforma em tapete crepitantemente macio sob os passos ligeiros ou vagarosos. E ainda que sinta saudades do ar morno das manhãs, das horas que se prolongam em demorados crepúsculos, aprendo a sorrir ao despertar tardio das madrugadas e às noites que chegam em prematuras penumbras. Era outono no tempo em que nasci. É outono na contagem do tempo que me foi dado. São cada vez mais azuis todos os outonos que ainda puder esperar, viver e amar…
© Rita Pais
Tela © Paul Gaugin