segunda-feira, 9 de junho de 2014

Fado





Maria , saia todas as sextas a seguir ao jantar, certas pessoas da terra achavam estranho ver uma mulher assim sozinha a passear na rua de noite,mas para ela não era ,já o fazia há muitos anos.
Sempre ás sextas, Maria punha o seu xaile, herança de família e punha-se ao caminho até ao bar que sempre frequentava nesse dia,para ouvir fados.
Já a conheciam por lá, tinha até lugar marcado e sabia todos os fados de cor.
Sentava-se e quando o som das guitarras se fazia ouvir, deixava-se ficar embevecida com todo aquele ambiente e com as letras que cantava só para si, para ela o fado não era triste, não transmitia só saudades, pelo contrário estar ali para ela era como ir aos domingos à igreja ,algo a que também nunca faltava, tudo aquilo lhe transmitia paz e sentimentos e lembranças que nem conseguia explicar.
O seu gosto pelo fado já vinha dos seus avós e dos seus pais , que adoravam fado , todos os dias Maria ouvia ou os seus avós cantarem mesmo quando estavam a trabalhar no campo ou a sua mãe a cantar e o seu pai a tocar guitarra ,iam até tocar numa casa de fados, e ela mesmo em criança gostava daquele som.
Agora vivia sozinha e estar ali fazia-a sentir bem ,lembrou-se da voz da sua mãe que sempre com medo que se constipasse lhe cantava o que naquele momento com vozes tão melodiosas e talentosas se fazia ouvir,e Maria ali ficava até acabar a noite....

Susana Garcia Ferreira



Foto de Eduarda ,in Museu da Anadia .